terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ensaio de uma Carta de Amor III

Tentei contar para você, mas não tive coragem. Sentei e comecei a chorar. Ficar ao seu lado não era tão fácil. Aquele cheiro de flores incomodava um pouco. Não contei e chorei bastante. Você não me abraçou para eu parar e chorei ainda mais.
Fiquei quase um mês sem vê-lo. Era horrível lembrar-me de tudo. Contei para Lorena e Mariana. Sua irmã pareceu ficar desapontada, mas engoliu e conversamos. Elas ajudaram muito. Principalmente quando descobri que estava grávida. Chorei por dias e elas estavam ao meu lado me consolando, mas às vezes Mariana brigava comigo. Um dia discutimos e ela gritava dizendo que eu não te amava ou respeitava, pedi perdão e tentei dizer que nunca planejei isso, eu só queria ficar ao seu lado para sempre, mas... Mariana não compreendia, pediu para que eu saísse, Lorena tentou conversar, foi tão maltratada quanto eu.
Fiz o que pude para reaproximar-se de Mariana, ela evitava encontros e a cada dia que passava parecia odiar-me ainda mais. Tentei novamente conversar, fui até a casa de sua irmã, recebi xingamentos, uma bofetada no lado direito de meu rosto e vi uma de minhas melhores amigas chorar como uma criança. Abraçamo-nos. Ela ainda não havia perdoado, mas começava a entender.
Já não via Daniel há quase dois meses e minha barriga ainda não aparecia. Eu estava no mercado quando o vi. Nossos olhos encontraram-se, mas ele não tinha aquele olhar doce e apaixonado, em seu lugar havia um olhar vazio. Meus olhos encheram d’água e sei que percebeu. No momento que dei um passo em sua direção, ele virou-se e foi embora. Meu coração ficou em minhas mãos, o que eu havia escondido não tinha perdão. Ele tinha ódio e eu não o culpava. Afinal, machuquei muitas pessoas com esse relacionamento. Naquela semana não consegui parar de pensar em nosso encontro e em uma manhã recebi uma ligação. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar, era Daniel. Pediu para encontrá-lo no parque de sempre depois do almoço, aceitei em estado de euforia. Meus olhos brilhavam e pensei que as coisas poderiam se resolver. Mas ao mesmo tempo, pensei que poderia ser o fim. Para sempre.
Cheguei ao lugar e ele estava sentado na grama, sentei-me ao seu lado então me olhou profundamente e suspirou. Houve um breve silêncio e este foi quebrado quando ele contou que recebera uma ligação no dia anterior. Lorena ligou dizendo que eu estava grávida e que apenas eu poderia explicar tudo. Minha cabeça estava baixa, quando a levantei vi seus olhos cansados, suas olheiras e todo o seu aspecto triste. Em pensar que eu havia causado isso tudo e, quando era para ele superar tudo o que houve Lorena o destruiu mais um pouco. Começou a falar baixinho que o filho era de meu marido; quando desmenti, ele falou um pouco mais alto. Enquanto eu negava, ele aumentava o tom de voz, então gritou. Desabafou, tirou toda aquela raiva acumulada de dentro de si, xingou-me, chegou ao ponto de quase esbofetear-me e chorou. Eu nunca o tinha visto chorar. Ele sempre pareceu forte e quando eu estava triste, era dele o ombro amigo em que eu chorava. Naquele dia inverteram-se os papéis, fui a consoladora – apesar de,ao mesmo tempo, ser a causadora de toda esta dor. Pedi para acalmar-se porque tudo aquilo, todas as coisas que o faziam ter esta raiva tinham explicação. Pediu-me para eu explicar tudo, disse que seu coração já estava partido e que nada mais poderia machucá-lo. Engoli seco, comecei a falar sabendo que ele talvez duvidasse de cada palavra, apesar de serem todas verdadeiras.

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