sábado, 31 de outubro de 2009

Prisão

Hoje
me sinto diferente
de ontem.
Penso nisso
e no amanhã
que se esconde
por entre sonhos pisados,
esmagados pelo gigante desconfiante
que se apoderou de mim
no instante em que eu era feliz.
Por entre tijolos quebrados
do meu muro estilhaçado,
vejo a vida passar
enquanto assisto acorrentado
pensando numa forma de escapar.
E o gigante ri
da minha falta de sorte,
dizendo que não sou forte
me deixando apenas
com míseros versos tortos
que, como eu, estão por acabar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Para Sempre II

Domingo houve um certo cochicho na vizinhança sobre a família de Luiza e Alan estava ficando preocupado porque ela não saía de casa. O pai dele esbravejava em casa, chamava o pai da menina de pilantra, cafajeste e ameaçou caçá-lo com uma arma que tem escondida em casa. Escondida é um modo de dizer, até os vizinhos sabiam onde estava a arma. O menino tomou toda a coragem que pouco tinha e bateu três vezes na porta. Foram batidas suaves, como se ele quisesse que não ouvissem. A mãe de Luiza abriu a porta, ela estava com um olhar triste e preocupado. Ele disse tímido que estava preocupado com Luiza e que foi levar a matéria da semana, essa era uma boa desculpa porque as amigas de Luiza eram do colégio do outro lado do bairro e ela não tinha muitos amigos no colégio deles. A mulher deixou-o entrar avisando que teria que ser rápido, ele entendeu as entrelinhas, o marido não estava em casa, e deveria ser por pouco tempo. Ela levou-o até o quarto e deixou-os sós.
Luiza estava sentada no chão acariciando um ursinho bege todo peludo. Ele sentou do lado da menina, ela encostou a cabeça em seu ombro. Com um mão ele encostou no ombro dela, sentiu ela gemer um pouco. Era dor. Ele entregou o caderno com anotações da semana, olhou no fundo de olhos cansados e beijou-lhe a testa. Ela tinha marcas na perna, ele viu quando ela levantou para colocar o ursinho e cima da cama, eram marcas roxas, intensas. Quando as viu seu coração apertou e ele teve vontade de concordar com o seu pai quanto ao de Luiza, ele era um monstro. Conversaram um pouco, ela perguntou sobre a escola. Estava com uma voz fraca, ele se sentia horrível por não ter visitado a menina antes, parecia que a culpa era dele. E enquanto se culpava, ele ouviu a porta bater com força. Depois ouviu um grito baixo de mulher. Luiza arregalou os olhos, o pai chegou em casa. Ela fechou a porta do quarto e pediu para ele sair pela janela. Tinha medo nos olhos, ela tremia e estava quase chorando. Ele chegou perto dela e disse que não iria embora. Uma batida forte na porta os amedrontou. O pai dela gritava para abrir a porta, dizia:
- Eu sei que tem um rapaz aí dentro, sua vadia. Abra essa porra dessa porta!
Ele gritava e batia com força na porta. Tentou arrombar. Alan e Luiza tentavam segurar, mas na segunda tentativa eles foram ao chão. O homem tinha ódio nos olhos, por um momento ele lembrou da mãe da menina, ela estava lá embaixo e ele não sabia o quê tinha acontecido com ela. Segurou Alan pelo braço e o jogou para trás com força, agora seu objetivo era a filha. A própria filha, ela estava tremendo de medo. Fechou os olhos com força como se soubesse o quê iria vir. Ele agarrou-a pelo cabelo e jogou-a contra o chão, fez isso duas vezes, o nariz de Luiza já estava sangrando. Alan estava paralisado, tinha medo, estava assustado, tinha medo de agir sem pensar, mas ele tinha que fazer alguma coisa. E ele fez antes do homem acertar a menina pela terceira vez.
A mãe de Alan tinha ido à padaria comprar pão, um pouco de queijo e presunto. Quando passou na frente da casa de Luiza, parou e pensou na menina e na mãe, queria que o sofrimento delas acabasse. E quando virou-se ouviu um disparo. Um, dois, três. Três disparos, vieram de dentro da casa. Ela gritou, o filho dela estava lá dentro. O entregador que passava por ali também ouviu os tiros, juntou dois homens e entraram na casa. A mãe de Luiza estava desmaiada no chão, só desmaiada, mas sangrava na cabeça. Ligaram para uma ambulância. Correram para os quartos e ao chegar no de Luiza encontraram a menina também desmaiada e nos braços de Alan. Ele chorava e a apertava com força. A arma do pai de Alan estava nos pés do menino e o pai dela levou dois tiros, um no estômado e outro à altura do pulmão, estava morto, um dos disparos acertou o espelho e haviam vários cacos no chão. Alan segurava Luiza com força e dizia baixinho que tudo ficaria bem, que ela agora não precisava mais chorar, que ele estaria para sempre a protegendo. Para sempre.

Para Sempre I

Foi uma semana fria. Luiza passou as tardes em casa debaixo de um cobertor e tomando chocolate quente com as amigas. Era raro ela sair de casa, seu pai não gostava muito. Suas amigas tinham que ir embora antes que ele chegasse, foram às cinco horas, mais ou menos. Mas naquele dia elas poderiam ter ficado por mais tempo, o homem demorou a chegar.
Do outro lado rua Alan tomava coragem e ia em direção à casa de Luiza, mas ele fazia isso todos os dias e sempre voltava. Assim como todos por ali, ele tinha um tremendo medo do pai da menina. Todos sabiam que ele maltratava as duas, quando era menor haviam boatos que ele abusava da filha, nada confirmado. O que era confirmado é que às vezes ela chegava na escola com algumas marcas roxas. Ele sempre teve vontade de oferecer ajuda, um ombro amigo, mas ela já tinha muitas amigas. Voltou a se concentrar em Luiza, em ir na casa dela, quando estava no jardim a porta da casa se abriu e ele viu o rosto preocupado da menina surgindo. Ele parou um instante e quis sumir, mas era tarde ela viu e foi aproximando-se devagar. Imaginou andando até ela, dando um suave beijo enquanto com uma mãe segurava a cintura e com a outra acariciava a pele branca e macia do rosto de Luiza.
- O que faz por aqui, Alan?
Ela tomou-o de surpresa, estava ocupado imaginando e não viu o quão perto ela estava.
- E-eu? Só passeando um pouco. Acho seu jardim bonito.
Luiza olhou intrigada, depois olhou para todos os outros jardim com flores bonitas e para seu próprio, de grama alta e com algumas folhas que o vento traz.
- Existem desculpas melhores. Quer ir para a varanda? Está frio. - Ela falava sorrindo, com um olhar esperto e doce - Ande, - puxou-o pela mão - você não me sai daqui até arranjar uma desculpa melhor.
Ela tentou arrancar alguma coisa dele e o tempo passava, estava ficando tarde e o rapaz via que ela agora tinha um olhar apreensivo. Ele conhece aquele olhar, ela devia estar com medo do pai chegar e pensar outras coisas. A mãe dela também estava e às nove horas mandou a menina entrar. Despediram-se com beijinhos no rosto. Ele ficou vermelho, esperava que ela não reparasse. E ela não reparou. A verdade é que Luiza era a única que não sabia que Alan gostava dela. Todos sabiam, ele gostava desde pequeno. Ele eram namoradinhos aos 3 anos, aquele namorico de escolinha de dar a mão e ficar rindo como se estivessem aprontando. Ele preferiria que isso nunca tivesse mudado. Queria que seu primeiro beijo fosse com ela, queria que sua primeira vez fosse com ela, mas não foram. Foram com uma menina mais velha, ele morria de vergonha. Qualquer outro gostaria de se gabar, mas ele tinha vergonha.
No outro dia o frio continuou e ainda mais forte. Luiza não foi para a escola. Alan pensou em ir na casa dela para ver se ela estava bem, mas não foi. E não foi por mais a semana que ela faltou. A semana tinha acabado e ninguém sabia de Luiza, Alan quis tomar coragem mas não conseguia. Passou o sábado se martirizando por não ter ido procurá-la. Eles não eram tão amigos, mas cresceram juntos. Sabia que ela sentia algum carinho por ele, carinho de amigo, ele nunca acreditou que um dia ela pudesse olhar para ele como um namorado.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Efeito

Ainda falta.
Tempo,
espaço,
alguma parte.

Mas agora você pode responder:
Afinal, o que sou ?
Matéria viva e morta,
sentimentos e versos.

Esse caos vive em mim,
transforma o momento que sou.
Tudo volta a ser nada
e descubro que não sou apenas eu.

Giro e danço e canso e caio,
saio de mim e vago,
volto, mas não sinto.