quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ensaio de uma Carta de Amor IV

Contei como conheci você, Bernardo. Como estávamos apaixonados, casamos e finalmente conseguimos nossa casa. Brigávamos muito, mas isso já era normal, tirando a última discussão. E nela gaguejei para contar. Você gritava comigo, eu tinha vontade de jogar as coisas no chão, desejei que você morresse e... Não consigo conter minhas lágrimas, perdoe-me. E você saiu. Parei de falar e Daniel pediu para continuar, continuei com as forças que restavam. Entrou no carro e quando estava pronto para ir embora entrei nele. Discutimos ali mesmo, dei-lhe um tapa, perdão por isso; você ligou o carro e ignorava-me enquanto dirigia. Gritei com você, chorei e pedi novamente para que você morresse. Céus, onde eu estava com a cabeça quando pedi tal coisa? Enquanto eu contava, solucei e pus-me a chorar. Daniel segurou minha mão e disse que estava ao meu lado. Olhava-me com ternura e pediu para que continuasse.
Quase não consegui, tremi e minha voz falhava ao explicar que um caminhão avançou o sinal e parecia não parar. Vinha em nossa direção, na direção do carona, que era onde eu estava. Você virou o carro bruscamente e, apesar de todas as coisas horríveis ditas naquele dia, em uma última prova de amor salvou minha vida. Mas eu preferia que não fosse assim, não sabia que por minha vida você pagaria com a sua. Desabei. Contei a Daniel como senti que fui culpada, como você era importante e ainda é. Como me senti quando o conheci, em nosso primeiro beijo e em nossa primeira noite. Abraçou-me e fez-me parar de chorar. Sentia falta disso, de alguém que pudesse fazer-me parar de chorar, alguém que ficasse ao meu lado e me amasse. Alguém como você, alguém como Daniel. Acabei por contar que naquela semana que não dei notícias porque fazia dois anos que você havia partido de minha vida. Daniel pediu perdão, disse que nunca deveria julgar-me e com a mão sobre minha barriga, deu-me um beijo e disse em meu ouvido que no próximo ano ele estaria comigo para conhecer você. Oh, Bernardo! Senti tanta felicidade que não coube em mim. Só pude agradecer a Lorena e contei com apoio de Mariana. Tudo estava dando certo, finalmente.
Hoje estou terminando de escrever esta carta ao seu lado, o cheiro de flores ainda incomoda. Sei que não terei resposta. Quero apenas saber que contei tudo a você. Daniel está lá fora, pedi privacidade enquanto escrevia esta carta. Foi duro lembrar-me de tudo. Sobre a gravidez, é uma linda menina. Atrevo-me a dizer que parece com você. Tem menos de um ano e é muito esperta, demos-lhe o nome de Bianca. Agora ela está na casa de Mariana descansando.
Acho que devo terminar esta carta aqui. Agora tenho que partir. Aquela nossa foto terá uma companheira, as fotos de meu casamento com Daniel estão prontas. Mas não é porque casei que tudo o que você foi para mim será perdido no tempo. Tive sorte de conhecer alguém que não tenha ciúmes deste imenso carinho que sinto por você.


Para sempre sua,
Anne.

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