quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Para Sempre II

Domingo houve um certo cochicho na vizinhança sobre a família de Luiza e Alan estava ficando preocupado porque ela não saía de casa. O pai dele esbravejava em casa, chamava o pai da menina de pilantra, cafajeste e ameaçou caçá-lo com uma arma que tem escondida em casa. Escondida é um modo de dizer, até os vizinhos sabiam onde estava a arma. O menino tomou toda a coragem que pouco tinha e bateu três vezes na porta. Foram batidas suaves, como se ele quisesse que não ouvissem. A mãe de Luiza abriu a porta, ela estava com um olhar triste e preocupado. Ele disse tímido que estava preocupado com Luiza e que foi levar a matéria da semana, essa era uma boa desculpa porque as amigas de Luiza eram do colégio do outro lado do bairro e ela não tinha muitos amigos no colégio deles. A mulher deixou-o entrar avisando que teria que ser rápido, ele entendeu as entrelinhas, o marido não estava em casa, e deveria ser por pouco tempo. Ela levou-o até o quarto e deixou-os sós.
Luiza estava sentada no chão acariciando um ursinho bege todo peludo. Ele sentou do lado da menina, ela encostou a cabeça em seu ombro. Com um mão ele encostou no ombro dela, sentiu ela gemer um pouco. Era dor. Ele entregou o caderno com anotações da semana, olhou no fundo de olhos cansados e beijou-lhe a testa. Ela tinha marcas na perna, ele viu quando ela levantou para colocar o ursinho e cima da cama, eram marcas roxas, intensas. Quando as viu seu coração apertou e ele teve vontade de concordar com o seu pai quanto ao de Luiza, ele era um monstro. Conversaram um pouco, ela perguntou sobre a escola. Estava com uma voz fraca, ele se sentia horrível por não ter visitado a menina antes, parecia que a culpa era dele. E enquanto se culpava, ele ouviu a porta bater com força. Depois ouviu um grito baixo de mulher. Luiza arregalou os olhos, o pai chegou em casa. Ela fechou a porta do quarto e pediu para ele sair pela janela. Tinha medo nos olhos, ela tremia e estava quase chorando. Ele chegou perto dela e disse que não iria embora. Uma batida forte na porta os amedrontou. O pai dela gritava para abrir a porta, dizia:
- Eu sei que tem um rapaz aí dentro, sua vadia. Abra essa porra dessa porta!
Ele gritava e batia com força na porta. Tentou arrombar. Alan e Luiza tentavam segurar, mas na segunda tentativa eles foram ao chão. O homem tinha ódio nos olhos, por um momento ele lembrou da mãe da menina, ela estava lá embaixo e ele não sabia o quê tinha acontecido com ela. Segurou Alan pelo braço e o jogou para trás com força, agora seu objetivo era a filha. A própria filha, ela estava tremendo de medo. Fechou os olhos com força como se soubesse o quê iria vir. Ele agarrou-a pelo cabelo e jogou-a contra o chão, fez isso duas vezes, o nariz de Luiza já estava sangrando. Alan estava paralisado, tinha medo, estava assustado, tinha medo de agir sem pensar, mas ele tinha que fazer alguma coisa. E ele fez antes do homem acertar a menina pela terceira vez.
A mãe de Alan tinha ido à padaria comprar pão, um pouco de queijo e presunto. Quando passou na frente da casa de Luiza, parou e pensou na menina e na mãe, queria que o sofrimento delas acabasse. E quando virou-se ouviu um disparo. Um, dois, três. Três disparos, vieram de dentro da casa. Ela gritou, o filho dela estava lá dentro. O entregador que passava por ali também ouviu os tiros, juntou dois homens e entraram na casa. A mãe de Luiza estava desmaiada no chão, só desmaiada, mas sangrava na cabeça. Ligaram para uma ambulância. Correram para os quartos e ao chegar no de Luiza encontraram a menina também desmaiada e nos braços de Alan. Ele chorava e a apertava com força. A arma do pai de Alan estava nos pés do menino e o pai dela levou dois tiros, um no estômado e outro à altura do pulmão, estava morto, um dos disparos acertou o espelho e haviam vários cacos no chão. Alan segurava Luiza com força e dizia baixinho que tudo ficaria bem, que ela agora não precisava mais chorar, que ele estaria para sempre a protegendo. Para sempre.

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