quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Para Sempre I

Foi uma semana fria. Luiza passou as tardes em casa debaixo de um cobertor e tomando chocolate quente com as amigas. Era raro ela sair de casa, seu pai não gostava muito. Suas amigas tinham que ir embora antes que ele chegasse, foram às cinco horas, mais ou menos. Mas naquele dia elas poderiam ter ficado por mais tempo, o homem demorou a chegar.
Do outro lado rua Alan tomava coragem e ia em direção à casa de Luiza, mas ele fazia isso todos os dias e sempre voltava. Assim como todos por ali, ele tinha um tremendo medo do pai da menina. Todos sabiam que ele maltratava as duas, quando era menor haviam boatos que ele abusava da filha, nada confirmado. O que era confirmado é que às vezes ela chegava na escola com algumas marcas roxas. Ele sempre teve vontade de oferecer ajuda, um ombro amigo, mas ela já tinha muitas amigas. Voltou a se concentrar em Luiza, em ir na casa dela, quando estava no jardim a porta da casa se abriu e ele viu o rosto preocupado da menina surgindo. Ele parou um instante e quis sumir, mas era tarde ela viu e foi aproximando-se devagar. Imaginou andando até ela, dando um suave beijo enquanto com uma mãe segurava a cintura e com a outra acariciava a pele branca e macia do rosto de Luiza.
- O que faz por aqui, Alan?
Ela tomou-o de surpresa, estava ocupado imaginando e não viu o quão perto ela estava.
- E-eu? Só passeando um pouco. Acho seu jardim bonito.
Luiza olhou intrigada, depois olhou para todos os outros jardim com flores bonitas e para seu próprio, de grama alta e com algumas folhas que o vento traz.
- Existem desculpas melhores. Quer ir para a varanda? Está frio. - Ela falava sorrindo, com um olhar esperto e doce - Ande, - puxou-o pela mão - você não me sai daqui até arranjar uma desculpa melhor.
Ela tentou arrancar alguma coisa dele e o tempo passava, estava ficando tarde e o rapaz via que ela agora tinha um olhar apreensivo. Ele conhece aquele olhar, ela devia estar com medo do pai chegar e pensar outras coisas. A mãe dela também estava e às nove horas mandou a menina entrar. Despediram-se com beijinhos no rosto. Ele ficou vermelho, esperava que ela não reparasse. E ela não reparou. A verdade é que Luiza era a única que não sabia que Alan gostava dela. Todos sabiam, ele gostava desde pequeno. Ele eram namoradinhos aos 3 anos, aquele namorico de escolinha de dar a mão e ficar rindo como se estivessem aprontando. Ele preferiria que isso nunca tivesse mudado. Queria que seu primeiro beijo fosse com ela, queria que sua primeira vez fosse com ela, mas não foram. Foram com uma menina mais velha, ele morria de vergonha. Qualquer outro gostaria de se gabar, mas ele tinha vergonha.
No outro dia o frio continuou e ainda mais forte. Luiza não foi para a escola. Alan pensou em ir na casa dela para ver se ela estava bem, mas não foi. E não foi por mais a semana que ela faltou. A semana tinha acabado e ninguém sabia de Luiza, Alan quis tomar coragem mas não conseguia. Passou o sábado se martirizando por não ter ido procurá-la. Eles não eram tão amigos, mas cresceram juntos. Sabia que ela sentia algum carinho por ele, carinho de amigo, ele nunca acreditou que um dia ela pudesse olhar para ele como um namorado.

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